EM FOCO

Exportações da América Latina e do Caribe à Ásia-Pacífico mostram forte crescimento em 2010

Foto: Fusionopanda, Flickr

As exportações da América Latina e do Caribe à Ásia cresceram 39% durante os três primeiros trimestres de 2010 com relação a igual período de 2009, superando os níveis históricos pré-crise. Sua recuperação foi muito mais dinâmica que as exportações totais (28%) e que as efetuadas a todos os outros destinos. As importações da Ásia, no entanto, cresceram 45%, frente aos 32% das importações totais da região.

Em ambos casos, o resultado está fortemente influenciado pelo dinamismo ainda maior do comércio com a China, país com o qual tanto as exportações, quanto as importações da região cresceram em praticamente 50% entre janeiro-setembro de 2009 e igual período de 2010 (ver tabela anexa).

Ásia-Pacífico e América Latina e o Caribe são as regiões de maior crescimento econômico no mundo, primeira e segunda respectivamente, depois de sua recuperação da crise global de 2008-2009. Este bom desempenho permitiu que durante 2010 a Ásia se consolidasse como um sócio comercial cada vez mais importante para a região latino-americana.

Contudo, a região ainda tem pendente o desafio de transitar de um comércio essencialmente interindustrial (exportando matérias primas e importando manufaturas), a uma maior inserção nas dinâmicas cadeias de valor asiáticas.

Isso requer que as exportações regionais tenham maior valor agregado e conhecimento, incluídas as de recursos naturais e de serviços.

Segundo a CEPAL, hoje existe um cenário muito auspicioso para o fortalecimento dos vínculos econômicos entre a América Latina e o Caribe e a Ásia-Pacífico, favorecido pelo dinamismo de ambas regiões no pós-crise.

Da mesma forma, a América Latina e o Caribe têm muito a oferecer à Ásia, além das matérias primas. Depois da crise, a região retomou a senda do crescimento econômico, e a redução da pobreza e do desemprego que a caracterizaram no período 2003-2008. Isso, somado à sua população predominantemente jovem e urbana, aumenta seu atrativo como mercado.

Por outro lado, várias das principais empresas multinacionais latino-americanas (chamadas “translatinas”) desenvolveram importantes habilidades em cadeias de valor vinculadas a recursos naturais, abrindo espaço para alianças com empresas asiáticas. Por último, a proximidade com o mercado dos Estados Unidos, somada aos tratados de livre comércio (TLCs), que vários países da região têm com esse país, deveria ser explorada para atrair maiores investimentos asiáticos.

Negociações comerciais

Vários países da região buscaram reforçar seus vínculos comerciais com a Ásia-Pacífico mediante a negociação de TLCs, especialmente Chile e Peru, as duas nações latino-americanas para as quais Ásia-Pacífico representa uma maior porcentagem de suas exportações totais (quase 40% no caso do Chile e cerca de 25% no caso do Peru). Costa Rica e Colômbia também se somaram a estas iniciativas ultimamente.

Neste contexto, uma iniciativa regional destacável é o Fórum do Arco do Pacífico Latino-americano. Criado em 2006 e integrado pelos 11 países latino-americanos banhados pelo Pacífico – Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá e Peru – é um mecanismo informal de cooperação cujos principais objetivos são promover a integração econômica entre seus membros e uma aproximação coordenada dos mesmos com a Ásia-Pacífico.

A CEPAL apoiou o Arco desde o princípio, tanto com análises quanto com propostas de ação. A colaboração mais recente se cristalizou no documento “El Arco del Pacífico Latinoamericano: construyendo caminos de complementación e integración con Asia”, desenvolvido conjuntamente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e apresentado na Reunião Ministerial do Arco, de outubro de 2010. Por outro lado, a CEPAL, junto com a Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico das Nações Unidas (ESCAP), está apoiando a realização de uma primeira reunião de alto nível entre o Arco e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

Neste sentido, desde março de 2010 realizam-se negociações para ampliar o Acordo Estratégico Transpacífico de Associação Econômica, assinado em 2005, por Brunei, Chile, Nova Zelândia e Singapura e conhecido como TPP por suas siglas em inglês. Às mencionadas negociações somaram-se Austrália, Estados Unidos, Malásia, Peru e Vietnam. Outros países da América e Ásia expressaram seu interesse em eventualmente incorporar-se a elas.

Para os Estados Unidos, principal motor deste processo, o TPP oferece o potencial de converter-se em uma “comunidade transpacífica” que contrapese as tendências que se observam na Ásia Oriental direcionadas à conformação de um bloco comercial puramente asiático. Para tanto, os Estados Unidos manifestaram sua intenção de converter o TPP em um acordo “do século 21”, que fixe um alto padrão tanto nas questões comerciais como na proteção do trabalho e do meio ambiente, e ao qual se possam incorporar progressivamente outros países da zona do Pacífico.

Concluindo, os países latino-americanos dispõem hoje de várias vias para aproximar-se institucionalmente da região Ásia-Pacífico. Cada uma delas implica distintos custos e benefícios, os quais cada país deve analisar com uma visão de longo prazo.

  Quadro
Comércio da América Latina e do Caribe por principais parceiros,
janeiro a setembro de 2009 e de 2010

(Milhões de dólares e variação percentual)
 
   
 
Fonte: CEPAL, com base nos institutos de estatísticas, bancos centrais, organismos de promoção
de exportações, Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos, EUROSTAT da União
Européia e no Direction of Trade Statistic (DOTS) do Fundo Monetário Internacional.
 


 

 


 

 

 

 
 
  Ásia-Pacífico e América Latina e o Caribe são as regiões de maior crescimento econômico no mundo, primeira e segunda respectivamente, depois de sua recuperação da crise global de 2008-2009.
 
 
  A região ainda tem pendente o desafio de transitar de um comércio essencialmente interindustrial (exportando matérias primas e importando manufaturas), a uma maior inserção nas dinâmicas cadeias de valor asiáticas. Isso requer que as exportações regionais tenham maior valor agregado e conhecimento.