As exportações entre países do MERCOSUL se mostraram resilientes frente à queda do resto das vendas do bloco
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Nova edição do Boletim de Comércio Exterior do bloco, preparado pela CEPAL, indica que os desafios para 2024 estarão vinculados ao baixo dinamismo da demanda global e à trajetória descendente dos preços, frente a taxas de juros persistentemente elevadas.

As exportações de bens do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) caíram 4,1% em 2023, impulsionadas pela queda de 7,2% nos preços internacionais dos bens exportados, indica a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) em um novo documento divulgado hoje. Isso ocorreu em um contexto de regularização da oferta internacional de bens depois da pandemia de COVID-19 e o início do conflito entre a Federação da Rússia e a Ucrânia, que foi compensado pelo aumento de 3,2% no volume dado pela melhoria nas colheitas agrícolas do Brasil e Paraguai.
A nova edição do Boletim de Comércio Exterior do Mercosul (Nº 7): Oportunidades e desafios para a integração regional em um cenário de fragmentação mundial, produzido em conjunto pelos Escritórios da CEPAL na Argentina, Brasil e Uruguai e a Divisão de Comércio Internacional e Integração do organismo, destaca que o MERCOSUL experimentou uma diminuição na taxa de crescimento da atividade econômica de 5% no ano anterior para 1,8% em 2023, que superou o desaceleramento registrado pela economia global.
Segundo informa o organismo regional das Nações Unidas, os valores importados também caíram de forma significativa no ano passado. À diminuição de 9,5% nos preços internacionais dos bens importados impulsionada pelas menores cotações dos combustíveis e fertilizantes se somou a queda de 2,4% no volume das compras externas, dando lugar a uma redução de 11,7% no valor importado pelo bloco.
“O valor do comércio entre os membros do MERCOSUL mostrou mais resiliência que o intercâmbio total, registrando um crescimento de 4,2% em relação ao ano anterior. Este aumento foi favorecido pelo dinamismo do setor manufatureiro, em particular o complexo automotivo. Além disso, o bloco mostrou capacidade para enfrentar o choque exógeno representado pela seca na Argentina e no Uruguai sobre certas cadeias de valor garantindo o abastecimento de insumos dos outros membros do bloco”, ressalta o documento.
De acordo com a publicação, o comércio exterior de serviços mostrou mais dinamismo que o de bens, de acordo com a tendência global, e superou os níveis anteriores à pandemia. As exportações tiveram um aumento de 12,8% em relação ao ano anterior impulsionadas pelo turismo receptivo e pelos serviços modernos, enquanto nas importações o crescimento foi de 4,6% devido fundamentalmente à baixa nos preços internacionais do transporte de bens, que impediu o forte crescimento do turismo emissivo.
Como resultado, o saldo de serviços, estruturalmente deficitário para o bloco, diminuiu para 1,5% do PIB do grupo. Com um superávit na balança de bens de 2,7% do PIB, que superou o déficit em serviços, o saldo comercial total teve um resultado positivo equivalente a 1,2% do PIB, o que significou uma melhoria em comparação com o de 2022, quando o comércio havia sido equilibrado.
Em 2024, a CEPAL prevê importantes desafios associados ao baixo dinamismo da demanda global, tendência à diminuição dos preços internacionais dos produtos que o bloco exporta e persistência de taxas de juros de referência elevadas. A maior oferta exportável da Argentina e Uruguai após a seca favorece as exportações do grupo, embora isso seja compensado por uma queda nas exportações do Brasil. As importações poderiam diminuir se a tendência à queda nos preços dos hidrocarbonetos se mantiver, embora o conflito no Mar Vermelho possa seguir impactando as rotas comerciais mundiais e encarecer os custos dos fretes.
A Comissão econômica regional da ONU ressalta que, após vários anos de pouco dinamismo no funcionamento do bloco, em 2023 houve acontecimentos importantes, entre os quais destacou a incorporação da Bolívia como membro pleno, a aprovação de um novo regime de origem, a regularização dos aportes ao Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM) e a assinatura de um acordo comercial com Singapura. Em contraste, além de intercâmbios de posições, não se registraram progressos na negociação do acordo de livre comércio com a União Europeia.
Além destes avanços, e de acordo com edições prévias deste Boletim, assinala-se que o MERCOSUL persiste com dificuldades para aumentar suas exportações, que crescem menos que o comércio global (2,2% ao ano frente a 2,6%) desde a saída da crise financeira mundial de 2008-2009, no contexto de uma crescente primarização das exportações e dificuldades para aprofundar a integração regional.
A crescente instabilidade geopolítica mundial, a busca de muitos países do mundo por “encurtar” as cadeias de abastecimento para garantir uma maior resiliência de suas economias frente a eventos disruptivos e o número crescente de medidas de proteção comercial, inclusive as que têm origem na proteção do meio ambiente, poderiam restringir as possibilidades de expandir as exportações mais tradicionais do MERCOSUL e aprofundar o atraso produtivo do bloco, afetando sua inserção internacional.
O organismo adverte que a transição verde representa outro grande desafio para a inserção externa do MERCOSUL. Aos riscos impostos pelas condições climáticas extremas, cada vez mais frequentes, que ameaçam afetar a oferta exportável, se soma o chamado “protecionismo verde” dos países desenvolvidos e suas grandes políticas de estímulo para a transição rumo a economias verdes. Daí que os países do MERCOSUL enfrentem a difícil tarefa de implementar políticas de desenvolvimento produtivo verdes com sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Apesar disso, esses desafios representam uma nova oportunidade para estreitar laços regionais e gerar sinergias produtivas, tecnológicas e de demanda, emulando as experiências dos países avançados. A consecução dessa meta dependerá consideravelmente do apoio dos países desenvolvidos, dada a significativa disparidade de esforços existente.
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