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“A desigualdade conspira contra a recuperação e o desenvolvimento”: Alicia Bárcena

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17 de março de 2022|Comunicado de imprensa

A Secretária Executiva da CEPAL proferiu uma conferência magistral na sede regional da FAO, onde se prestou homenagem à sua destacada trajetória nas Nações Unidas.

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Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL
Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL, durante seu conferência magistral no Escritório Regional da FAO.
Foto: CEPAL

“A desigualdade conspira contra a recuperação, o desenvolvimento, a nutrição, a saúde, a educação, o emprego, a pobreza, contra tudo. Por isso, devemos abordá-la sob todos os ângulos”, enfatizou Alicia Bárcena, Secretária Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), durante uma conferência magistral proferida no Escritório Regional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para a América Latina e o Caribe, em Santiago do Chile.

A máxima autoridade da CEPAL realizou uma conferência intitulada “Contexto socioeconômico e desafios da América Latina e do Caribe” na qual apresentou um panorama da situação econômica, social e ambiental da região após a crise derivada da pandemia de COVID-19 e suas perspectivas de recuperação. No evento, que foi transmitido ao vivo a todos os escritórios nacionais da FAO e ao público em geral, o Subdiretor Geral e Representante Regional para a América Latina e o Caribe da FAO, Julio Berdegué, prestou homenagem à sua trajetória, a poucos dias de deixar a Secretaria Executiva da Comissão.

“Alicia termina seu mandato à frente da CEPAL no fim de março. Por isso, nos reunimos aqui para prestar-lhe uma homenagem principalmente por nos ter dado uma liderança intelectual e política numa época muito agitada, com duas crises sucessivas muito profundas que deixaram a América Latina muito abalada. Ela foi uma voz clara que traçou novas ideias. Ela e a CEPAL deram uma contribuição fundamental”, destacou Berdegué.

O Subdiretor da FAO agradeceu a Alicia Bárcena por ter voltado a situar o tema da igualdade no centro do debate das políticas públicas e por sua permanente colaboração e disposição para o trabalho conjunto com o resto das agências das Nações Unidas. “Por isto, e muitas coisas mais, queremos agradecer-lhe. Ela deixa a CEPAL, a ONU, mas certamente sua voz, sua inteligência e sua simpatia continuarão sendo um ativo na luta pelo desenvolvimento sustentável”, acrescentou.

Em sua conferência magistral, Alicia Bárcena destacou que não basta crescer para igualar, mas primeiro é preciso igualar para crescer. “Não se pode crescer sem igualdade, porque a desigualdade é ineficiente. A pandemia aumentou a pobreza, o desemprego e a informalidade afetando especialmente as mulheres”, destacou.

“Em nossa região, a fábrica da desigualdade é a heterogeneidade produtiva, as lacunas estruturais, baixo nível de inovação, investimento e produtividade. A desigualdade define a região, é injusta, ineficiente e conspira contra o desenvolvimento sustentável”, enfatizou.

Isto se reflete principalmente nos níveis de pobreza e pobreza extrema, que em 2020 aumentaram pelo sexto ano consecutivo. Em 2021, apesar da recuperação, projeta-se um retrocesso de 27 anos, com aumento da pobreza extrema (para 86 milhões de pessoas) e risco de fome, acrescentou.

Alicia Bárcena indicou que a crise provocada pela pandemia agravou as assimetrias globais entre os países desenvolvidos e as nações em desenvolvimento. Exemplificou com as importantes lacunas na área econômica, em saúde, no combate à mudança climática e na resposta à crise: atualmente 1% da população possui 50% da riqueza mundial; com 8% da população, a América Latina e o Caribe registram 32% das mortes provocadas pela pandemia; a região acumula somente 8% das emissões, mas é uma das mais afetadas por eventos climáticos extremos; e os países desenvolvidos gastaram 14,9 trilhões de dólares para enfrentar os efeitos da crise, enquanto os países emergentes investiram somente 2,7 trilhões (de janeiro de 2020 a setembro de 2021).

Além disso, assinalou que nos encontramos ante um multilateralismo muito enfraquecido frente a tendências nacionalistas e regionalistas. “A região deve entender que a integração é o único caminho. Devemos fortalecer as cadeias de valor e avançar rumo à autossuficiência sanitária e alimentar, não a partir de importações, mas fortalecendo nossas próprias cadeias de valor”, disse.

Alicia Bárcena assinalou que em 2022 a América Latina e o Caribe crescerão 4 pontos menos (2,1%, após registrar 6,2% em 2021) num contexto internacional de conflito bélico, menor comércio e possibilidade de retirada de estímulos monetários que aumentariam o custo do financiamento. E também com uma grande incerteza sobre a evolução da pandemia.

“A CEPAL propõe três pactos: um produtivo, outro social e outro fiscal. Precisamos ter políticas industriais explícitas, universalizar os sistemas de proteção social e tributação progressiva, combatendo a evasão (que chega a 6,1% do PIB da região) e as isenções fiscais. As políticas nacionais devem ser acompanhadas pela ação multilateral”, ressaltou.

A Secretária Executiva do organismo assinalou que é necessário orientar o gasto público dos países e aumentar o investimento público e privado, que é a ponte de prata entre o curto e médio prazo. Também insistiu em seguir avançando rumo à igualdade de gênero e construir uma sociedade do cuidado, para evitar que as mulheres continuem a carregar o maior peso das atividades não remuneradas.

“A recuperação é uma oportunidade histórica para um novo pacto social que proporcione proteção, certeza e confiança. Devemos avançar rumo a um Estado de bem-estar mediante um grande impulso para a sustentabilidade baseado na Agenda 2030 e em Nossa Agenda Comum“, finalizou Alicia Bárcena.