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A autonomia das mulheres, a igualdade de gênero e a construção de uma sociedade do cuidado são uma condição, um caminho e um catalisador para o desenvolvimento sustentável

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26 de janeiro de 2022|Comunicado de imprensa

Ministras da Mulher e autoridades dos mecanismos para o avanço das mulheres da América Latina e do Caribe inauguraram hoje a 62ª Reunião da Mesa Diretiva da Conferência Regional sobre a Mulher, organizada pela CEPAL em coordenação com a ONU Mulheres.

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De izquierda a derecha, Alicia Bárcena, Secretaria Ejecutiva de la CEPAL; Mónica Zalaquett, Ministra de la Mujer y la Equidad de Género de Chile; María-Noel Vaeza, Directora Regional para las Américas y el Caribe de ONU Mujeres, y  Sima Bahous, Directora Ejecutiva de ONU Mujeres.
De izquierda a derecha, Alicia Bárcena, Secretaria Ejecutiva de la CEPAL; Mónica Zalaquett, Ministra de la Mujer y la Equidad de Género de Chile; María-Noel Vaeza, Directora Regional para las Américas y el Caribe de ONU Mujeres, y Sima Bahous, Directora Ejecutiva de ONU Mujeres.

A autonomia das mulheres, a igualdade de gênero e a construção de uma sociedade do cuidado são uma condição, um caminho e um catalisador para o desenvolvimento sustentável, enfatizaram hoje, as Ministras da Mulher e autoridades dos mecanismos para o avanço das mulheres da América Latina e do Caribe, durante a inauguração da 62ª Reunião da Mesa Diretiva da Conferência Regional sobre a Mulher, que está sendo realizada de forma virtual até quinta-feira, 27 de janeiro.

A reunião, em que participam delegadas e delegados dos países da região, integrantes de organismos internacionais, da academia, de organizações de mulheres e feministas, da sociedade civil e dirigentes sindicais, entre outros representantes, é organizada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), que exerce a Secretaria da Conferência, em coordenação com a Entidade das Nações Unidas para a Igualdad de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres).

Na sessão de abertura, discursaram Alicia Bárcena, Secretária-Executiva da CEPAL; María-Noel Vaeza, Diretora Regional da ONU Mulheres para as Américas e o Caribe; e Mónica Zalaquett, Ministra da Mulher e da Equidade de Gênero do Chile, na qualidade de Presidente da Mesa Diretiva da Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe.

A reunião contou com a participação de Sima Bahous, Diretora-Executiva da ONU Mulheres que, juntamente com Alicia Bárcena e María-Noel Vaeza, apresentaram a Sessão Especial de Consulta Regional prévia à 66° Período de Sessões da Comissão sobre a Condição Jurídica e Social da Mulher (CSW na sigla em inglês).

“A recuperação será feminista ou não será”, enfatizou Alicia Bárcena, Secretária-Executiva da CEPAL, em seu discurso de abertura. Fazendo um relato dos anos em que tem estado à frente da CEPAL, ela resumiu as contribuições que sob a sua liderança foram feitas à região para a igualdade substantiva e para a Agenda Regional de Gênero.

Nesse sentido, recordou que a CEPAL tem contribuído para estabelecer na região a autonomia das mulheres, para analisar e vincular a desigualdade de gênero com a falta de autonomia das mulheres e gerar evidências sobre a autonomia física, econômica e na tomada de decisões das mulheres, suas inter-relações e suas manifestações nos nós estruturais da desigualdade.

Recordou que as mulheres estão na linha de frente da resposta à pandemia causada pela COVID-19 e nunca como agora foi destacada a importância do cuidado e da igualdade para a sustentabilidade da vida.

Ressaltou que, diante de um modelo de desenvolvimento que está associado à concentração da riqueza, à deterioração ambiental, à crise climática e do cuidado, à precariedade das condições de vida das mulheres e sociedades marcadas pelo patriarcado, pelo racismo, pela violência, pela desigualdade e pela cultura do privilégio, "não podemos voltar a uma normalidade que produziu enormes desigualdades, pobreza e sofrimento".

Por isso, “precisamos de uma mudança urgente no estilo de desenvolvimento para avançar rumo a uma sociedade do cuidado em que se reconheça a interdependência entre as pessoas e o meio ambiente; a interdependência entre os processos produtivos e a sociedade; e que coloque a sustentabilidade da vida humana e do planeta no centro”, afirmou Alicia Bárcena.

Alertou que a pandemia aprofundou as lacunas e prejudicou desproporcionalmente as mulheres, que se encontram nos setores mais afetados pela perda do emprego. Mas os dados desanimadores não ocorrem somente no âmbito da autonomia econômica, afirmou a Secretária-Executiva.

“Devemos tornar a pandemia visível na sombra. O feminicídio e outras violências de gênero continuam afetando as mulheres e meninas da região. De acordo com o Observatório da Igualdade de Gênero da CEPAL, pelo menos 4.091 mulheres foram vítimas de feminicídio em 26 países da região em 2020 e uma em cada quatro meninas e adolescentes na América Latina e no Caribe se casou pela primeira vez ou mantinha uma união precoce antes de completar 18 anos; uma prática nociva e uma violação dos direitos humanos que não mudou nos últimos 25 anos”, enfatizou.

Durante seu discurso, a alta funcionária das Nações Unidas destacou que, na última década, a CEPAL tem acompanhado os governos da América Latina e do Caribe em seu trabalho para enfrentar os desafios conceituais e de políticas públicas para promover um desenvolvimento sustentável baseado na igualdade de gênero e nos direitos e na autonomia das mulheres.

Destacou que a Estratégia de Montevidéu para a Implementação da Agenda Regional de Gênero  no âmbito do Desenvolvimento Sustentável até 2030 constitui uma contribuição da região para colocar a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres no centro do debate sobre o desenvolvimento sustentável. O Compromisso de Santiago, por su vez, tem um olhar para o futuro, com acordos em áreas que não haviam sido abordadas anteriormente na Agenda Regional de Gênero e que são fundamentais para responder aos desafios que surgem para as mulheres diante dos cenários de mudança nos planos econômico, demográfico, climático e tecnológico.

Finalmente, Alicia Bárcena destacou a força, a coragem, a capacidade e a criatividade das mulheres da América Latina e do Caribe e suas organizações, e reafirmou o compromisso da CEPAL de continuar impulsionando políticas e alianças que permitam proteger os avanços na garantia de direitos das mulheres, alcançados na última década, evitar retrocessos e promover uma recuperação transformadora com igualdade de gênero, com base nos princípios feministas de redistribuição do poder, dos recursos, do trabalho e do tempo.

“O horizonte deve ser avançar rumo à construção de estilos de desenvolvimento justos e igualitários. Vemos a sociedade do cuidado como um salto civilizatório, como o horizonte mais promissor para uma recuperação transformadora, sustentável e com igualdade de gênero”, acrescentou.

“Entre todas e todos podemos fazer mais e melhor por uma recuperação sustentável, inclusiva e resiliente. Repito mais uma vez: a recuperação da América Latina e do Caribe pós-pandemia será feminista ou não será”, concluiu.

María-Noel Vaeza, entretanto, destacou a urgência de uma melhor incorporação das mulheres na recuperação socioeconômica, com sistemas de cuidado integrais fortalecidos, e com universalização do acesso à tecnologia.

“Esses elementos permitirão a construção de sociedades mais justas e igualitárias, com melhores condições para enfrentar os desafios presentes e futuros. Acho fundamental ressaltar que a criação de sistemas integrais de cuidado pode se tornar um verdadeiro motor da recuperação socioeconômica da região, que não deixe ninguém para trás”, afirmou.

A Ministra Mónica Zalaquett, por sua vez, considerou que a pandemia tem mostrado a fragilidade das conquistas em termos de igualdade de gênero que tanto custaram para ser alcançadas.

“Hoje é imperativo trabalhar para que o mundo pós-COVID-19 seja estruturalmente menos desigual. Essa crise nos tem dado uma oportunidade única para implementar ações que nos permitam reduzir as lacunas de gênero e avançar com firmeza rumo a um desenvolvimento sustentável. Devemos agir com urgência na reestruturação dos sistemas de cuidado”, afirmou.

Na 62ª Reunião da Mesa Diretiva, as autoridades trocarão opiniões e posições sobre os preparativos da XV Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe que será realizada este ano na Argentina e que terá como tema central “A sociedade do cuidado: horizonte para uma recuperação sustentável com igualdade de gênero”.