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Explosão de inovações sociais na América Latina e no Caribe

1 de setembro de 2014|Coluna de opinião

Coluna de opinião da María Elisa Bernal, Oficial de Asuntos Sociais da CEPAL, publicada em Notas da CEPAL Nº 81 (setembro 2014).

A CEPAL, através de sua Divisão de Desenvolvimento Social, trabalha há uma década no campo da inovação social graças a um concurso desenvolvido junto à Fundação Kellogg que visibiliza experiências criativas geradas na América Latina e no Caribe. Até agora conhecemos cerca de 4.800 iniciativas que promovem a participação das comunidades - contribuindo para o fortalecimento da cidadania e da democracia -, as quais podem ser replicadas tanto em seus países de origem como em outros países da região. Trata-se de modelos criativos, com impactos significativos e eficazes em função do custo.

Graças a esse trabalho, pode-se afirmar que a região vive uma explosão de inovações sociais. Seguramente porque nunca tivemos verdadeiros Estados de bem-estar, a sociedade civil e as organizações comunitárias tiveram que buscar soluções criativas para enfrentar suas dificuldades. Em geral, nascem como resposta a situações de crise ou extrema pobreza em qualquer de seus determinantes. Surgem especialmente a partir das organizações da sociedade civil e das próprias comunidades, ou de uma combinação virtuosa entre ambas. Com frequência a comunidade identifica o problema, tem ideias de solução, mas não conta com os conhecimentos técnicos necessários para desenvolvê-la; por isso, pede apoio a outras organizações.

Não são muitos os casos de inovações surgidos dos governos. E não é por "inaptidão". A inovação implica um processo de ensaio e erro, nem sempre bem-sucedido, risco que não é fácil de assumir no seio de um governo. Além disso, seu desenvolvimento e consolidação implica, geralmente, um prazo que excede os períodos governamentais. 

Outra característica importante das inovações sociais na América Latina e no Caribe é sua capacidade de desenvolver e facilitar sinergias entre os conhecimentos técnicos modernos e os tradicionais, inclusive os ancestrais. Nos projetos produtivos costuma-se criar modelos associativos, sendo estes a base do êxito produtivo e comercial. Também contam, frequentemente, com apoio financeiro externo, crucial para o desenvolvimento da inovação, desde que o agente financiador entenda suas diversas etapas e não espere resultados no curto prazo.

Apesar da enorme criatividade apresentada, a região copia muito pouco estes modelos. Em geral são mantidos quase como projetos-piloto que atendem a um número reduzido de pessoas. É indispensável expandir essas iniciativas para obter melhoras nas condições de vida de grupos amplos da população.

A réplica criativa pode ser obtida por várias vias. Por um lado, os governos podem converter essas experiências em programas governamentais e políticas públicas, depois de analisá-las e avaliá-las em profundidade. Ainda que pouco frequentes, alguns exemplos demonstram que isso é possível. Na Amazônia brasileira, um modelo de atenção à saúde da população dispersa nas margens dos rios - desenvolvida por uma organização não governamental - recebeu gradualmente apoio de governos locais até que foi definida pelo Ministério da Saúde do Brasil como a estratégia de atenção à população de toda a Amazônia do país. O "sonho dourado" seria que o mesmo projeto fosse adotado por todos os países da bacia amazônica. Nesta réplica criativa também podem participar ativamente as organizações da sociedade civil, que indubitavelmente contribuem para o desenvolvimento social da região.

A criatividade que a região demonstra deve converter-se num caminho para melhorar as condições de vida de nossos cidadãos.